Perdida, 1975
Uma doméstica recebe sua dose diária de violência na casa onde trabalha e resolve deixá-la, com a ajuda de um caminhoneiro por quem se apaixonou. No prostíbulo da cidadezinha um poeta propõe-lhe casamento e mudança para a roça, mas é ferido de morte. Estela então troca o puteiro pela fábrica redentora. A expiação industrial dura pouco, pois outra condenação ao meretrício lhe é imposta pelo caminhoneiro. Dessa, ela escapa buscando novos caminhos na cidade grande.
Produção - Mapa Filmes, 77’, Colorido, 1:66.
Prêmios - Golfinho de Ouro 1977, Coruja de Ouro 1977 (melhor filme, trilha sonora e prêmio especial), Governador do Estado de São Paulo 1978 (direção, roteiro, ator, atriz e trilha musical). Mostras - 80 Anos de Cinema Brasileiro, 17ª Mostra de Cinema de Pesaro, 1981.
Elenco - Maria Sílvia (Estela/Janete), Helber Rangel (Zeca de Oliva), Álvaro Freire (Júlio César), Silvia Cadaval (Neusa), Maria Alves (Marizona), Thaís Portinho (Fernanda), Thelma Reston (Dona Emília), Jorge Botelho (Amigo do carro), Maria Ribeiro (Sá Maria), Wilson Grey (Seu Viriato), Lupe Gigliotti (Dona Biênia), Fernando José (Seu Malaquias), Ângela de Castro (Terezinha), Ana Aben-Athar (Margareth), José Lavigne (Nenzão), José Steinberg (Freguês de Janete), Carlos Wilson (Barbeiro), Fábio Camargo (Faxineiro da zona), Paschoal Villaboim (Gigolô da faxina), Haroldo Pereira (Linotipista), Luiz Rosemberg (Voyeur
do bar do posto), Tavinho Moura (Cantor), Mário Murakami (Japonês) e Charles Stone (Assassino de Zeca).
Equipe - Produtores executivos – Zelito Viana e Carlos Alberto Prates Correia, Produtores associados – Embrafilme, Sertaneja de Cinema (Carlos Alberto Prates Correia) e K. M. Eckstein, Diretor de fotografia e câmera – José Antonio Ventura, Diretor de produção – Luiz Fernando Sarmento, Cenografia e roupas – Carlos Wilson, Assistente de direção – Álvaro Freire, Assistente de produção – Silvia Cadaval, Música original – Tavinho Moura, Murilo Antunes e Zezinho da Viola, Montagem – Carlos Brajsblat, Ruídos – Geraldo José, Dublagem – RFF (Onélio Motta), Mixagem – SOMIL (Victor Raposeiro), Laboratório – Líder Cinematográfica.
Roteiro e direção - Carlos Alberto Prates Correia.
Maria Sílvia
Helber Rangel
Textos e artigos:
Uma jóia brasileira com acentos trágicos e ecos emblemáticos
... A história daquela moça nos é contada em Perdida, de Carlos Alberto Prates Correia, o filme de maior peso, entre os inéditos, exibido no XVII Festival de Cinema de Pesaro. É de 1976, portanto não é recentíssimo, e teve um difícil – e perdedor – relacionamento com a Censura, que cortou 10 minutos de suas imagens e 20 palavras do som remanescente, sem contudo prejudicar em substância sua qualidade. A obra continua redonda e resoluta ao narrar o duplo drama – humano e social – da protagonista, com a intensa significação moral que surge e é lida em cada página. Reflete também as técnicas usadas por Prates Correia para representar a personagem e seus casos, seu drama cotidiano de vida e sentimentos, lidos numa escrita objetiva onde o distanciamento e a estranheza tornam-se, brechtianamente, os motivos estilísticos mais notáveis. Técnicas simples que impedem às vezes os sabores mais imediatos buscando as vias de um realismo no qual se encontram evidentes ou menos explícitos, mas nem por isso menos presentes, “sinais” irreais de onde o imaginário, mesmo através de pequeno detalhe, pode brotar imperceptivelmente. Sem que com isso haja no filme um desequilíbrio entre o realismo da narrativa e certos ecos emblemáticos. E sobretudo sem que nessa elaboração dos fatos, ora em chave concreta, ora em reinvenção através do realismo simulado, passe para segundo plano o sentido fundamental do drama, a dor daquela mulher sempre passiva, pela condição social, perante os acontecimentos. Mesmo quando o elemento quase trágico que serve de fundo constante à história é substituído por uma realidade de grandes coloridos, às vezes até com dobras de comédia.
Completa esse quadro um desempenho artístico que não fica entre os menores méritos do filme. O nome da protagonista, Maria Silvia, não diz muito, mas sua figura acídula e a sua profunda alma popular expressam um personagem de precisa evidência com vibrantes sombras dramáticas e sinceros impulsos de alma. Pena que o público italiano provavelmente nunca verá Perdida. Ao distribuidor, a tarefa de evitar essa perda e mudar um destino já escrito no roteiro do mercado para demonstrar que pelo menos existe a vontade de renovar os canais tradicionais da importação cinematográfica.
(Claude Trionfera - Il Tempo/Roma - 20/06/81)