O Milagre de Lourdes, 1965
O padre, que pode ser vigarista, vende bilhetes de rifa num conjunto residencial de Belo Horizonte. Ameaçado por um estranho o padre foge, mas um grupo de populares parte logo em seu encalço. Já sem o traje religioso esconde-se na primeira casa que encontra, onde surpreende duas mulheres seminuas. Não pode voltar para a rua e nem suporta aquela visão. Num quarto, enquanto espera que seus perseguidores se afastem, vai sendo envolvido por Lourdes, a favorita do bordel. A pequena multidão, lá fora, toma enfim outro rumo e ele, já nos braços da mulher, vai-se deixando ficar.
Produção - CEMICE, 10’, Preto e Branco.
Festivais - Leipzig e Viña del Mar (1966).
Elenco - Maurício Lansky (Padre), Suzy Carvalho (Lourdinha), Schubert Magalhães (Estranho), Edir Martins e Amélia Conceição (Mulheres da zona).
Equipe - Fotografia – Hélio Silva, Montagem – Eduardo Escorel, Diretores de produção – Schubert Magalhães e Marcos Rocha, Assistente de direção – Geraldo Veloso, Continuidade – Leônidas Lafetá, Assistentes de câmera – Tiago Veloso, Ronaldo Noronha e Álvaro Cordeiro, Assistentes de produção – Wellington Pimentel, Aníbal Pontes, Sérgio Lara e Guaracy Rodrigues, Laboratório – Líder Cinematográfica, Sonorização – Hélio Barroso.
Escrito e dirigido por Carlos Prates Correia.
Maurício Lansky e Schubert Magalhães
Minas de câmera na mão
Entre os últimos acontecimentos que indicam, com rapidez e surpresa, a passagem histórica do Cinema Novo de um movimento experimental a uma necessidade de comunicar as várias faces da realidade brasileira a um público de várias faces, três filmes - O Padre e a Moça, A Hora e Vez de Augusto Matraga, O Milagre de Lourdes - marcam a abertura de um novo caminho.
Dois nomes conhecidos, Joaquim Pedro e Roberto Santos, e um inteiramente inesperado, Carlos Alberto Prates, encontram-se numa nova e importante frente do Cinema Novo, a do raciocínio sobre o conflito entre a honra e a violência, entre o pudor e a liberdade, numa sociedade fechada em si mesma (e em suas tradições) que de repente conhece os sinais anárquicos da vida exterior, ou simplesmente da vida...
O Milagre de Lourdes é uma pequena obra-prima, jogo de abstração ou política da palavra nunca dita, humor anarquista capaz de agir como uma espécie de meditação (ou depoimento) sobre O Padre e a Moça, seu prolongamento ou negação. O segredo da anedota: Prates tem a firme consciência de que sua história, presa a 11 minutos, não começará nem acabará; que o padre, magistralmente interpretado por um estudante de sociologia, tanto poderá ser mesmo um religioso como um farsante; que a perseguição a ele é um movimento que condensa duas exigências, a econômica e a moral; e que essas exigências, num certo tipo de sociedade, é que fazem correr os homens (e as mulheres).
(Maurício Gomes Leite, JB, 27-4-66)